Como os dias de 24 a 31 de dezembro de 2017 mudaram a minha vida

Diferente da maioria das meninas, eu nunca quis ser mãe. Brincar de futebol com os meninos na rua, apostar corrida de bicicleta, descer a ladeira a jato a bordo do meu carrinho de rolimã personalizado com o escudo do batman eram coisas muito mais legais do que brincar de cuidar de um bebê de mentira.

Mas a gente cresce, casa, vê os amigos engravidando e começa a se emocionar com comerciais de margarina. Os 30 e tantos batem a porta e o relógio biológico começa a apitar de um jeito que você jurava que era mimimi da Bridget Jones. Mas não é. O relógio está lá e você escuta ele.


A decisão controladora e a decepção

Depois de séculos usando anticoncepcional, a médica alertou que demoraria, por volta de três anos pro bebê chegar. Mas minha mente controladora não acreditou. Meu plano era: fazer uma cicloviagem - uma espécie de despedida da bicicleta por um tempo - e parar de tomar a pílula em setembro. Engravidar em outubro e ter o bebê em julho - que eu acho um mês lindo pra se ter um bebê.

Mas nada disso aconteceu.

Como a médica previu, os anos foram se passando. E quando vimos, haviam se passado os 3 anos da previsão. Eu não estava a fim de tomar hormônios, então começamos a esboçar um papo superficial sobre adoção.

E achamos que a hora havia chegado...

Só que no dia 23 de dezembro de 2017, eu estava com 2 dias de atraso menstrual. Minha menstruação é um relógio. Nunca atrasou. Liguei pra farmácia, comprei um teste e no dia 24, levantei antes de André para fazer. E então, meus amigos, deu positivo!

Fiquei bolada. Sei lá se testes de farmácia são confiáveis mesmo. Contei a história pra minha irmã, despistamos todo mundo e fomos pra emergência fazer um exame de sangue que confirmou tudo. Sim! Havia um bebê a caminho!


Mas não comemore ainda. Nem me ligue pra dar os parabéns. Continue lendo.

Da emergência fomos pro shopping lotado de pessoas que não haviam ainda comprado seus presentes de natal para minha irmã comprar o primeiro presente pro seu sobrinho: um AllStar. E então fomos pra casa pra eu preparar a surpresa pro papai.

O presente de natal de André foi especial e diferente. Olhem só:




A gente tinha perdido vovó há poucos meses e o natal estava bem triste. A notícia de um bebê a caminho fez tudo mudar. Todos inspiravam alegria.

Meu pai sequestrou minha bicicleta. André foi no mercado comprar frutas pra eu ter uma alimentação saudável. Minha irmã vinha diariamente colocar a mão na minha barriga. E Cruel ficava atento a qualquer um que se aproximasse de mim.

Isso durou 7 dias.

Então, aconteceu:
Um sangramento fraco. Emergência. Remédios. Repouso. Sangramento forte. Exames. Aborto.


O Abacaxi Mental

Falar de aborto é meio tabu.
As pessoas evitam falar a palavra perto de mim.
Meu cérebro evita pensar a palavra.

André foi um anjo. Me trouxe chocolates e me abraçou dizendo que a culpa não era minha, enquanto eu chorava copiosamente.

Quanto ao bebê... Ele só tinha 3 semanas. E eu só sabia dele há 1 semana. Mas foram tanto planos... que doeu. Meus olhos ainda lacrimejam em pensar que não foi dessa vez. Mas o desafio é transformar esse abacaxi mental em força pro próximo que vai vir - uma hora ou outra ele chega por aí.


Se você passou por uma perda...

Seja de um mini-serzinho como foi a minha, ou de alguém de carne e osso que você podia abraçar, viva o luto. Não deixa ninguém dizer que é bobagem não. Chora. Come chocolate. Se dá um tempo. E depois, levanta a cabeça e cuida de quem ainda está por perto - ou no meu caso, de quem eu espero que venha em breve.

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